quarta-feira, 22 de outubro de 2014

JOGOS INTERCLASSES


Ao defender uma proposta pedagógica para as competições escolares, nos posicionamos e apresentamos nossa compreensão em relação a sua manifestação na escola. Para isso, será necessário repensar o sistema de competição atual e prática esportiva, dentro da escola. Todavia, não poderá ser feita de forma periférica, considerando apenas um único foco.

Como verificamos e que nos faz divergir de Bassani, Torri e Fernandez Vaz (2003), em relação às práticas esportivo-corporais na escola. Segundo os autores, a manifestação das práticas esportivo-corporais na escola, principalmente nas aulas de Educação Física, é o principal
alimentador dos rituais de disciplinamento corporal. O problema é que Bassani, Torri e Fernandez Vaz (2003) esqueceram-se de perguntar, em sua investigação, se os rituais de disciplinamentos encontrados foram realmente culpa do esporte ou se foram dos professores de Educação Física investigados, incapazes de iniciar uma reflexão, alienados e acomodados com o sistema vigente, reproduzindo modelos obsoletos de competições, que reforçam as características altamente competitivas do mundo, do individualismo e da seletividade.

Desse modo, entendemos que mais importante que tentar compreender a competição, é compreender o sujeito que compete, assim como os sujeitos que especificam seus fins (GARCIA, 2002).

Para apresentarmos a proposta que defendemos para as competições pedagógicas na escola, sobressai, inicialmente, a necessidade de elucidar um problema conceitual com relação aos eventos esportivos escolares: os jogos interclasses é um evento da escola ou na escola?

Aparentemente essa é uma questão ultrapassada e suficientemente gasta nas discussões em Pedagogia do Esporte. Contudo, temos motivos suficientes para acreditar que a escola (ensino formal) ainda não conseguiu romper com a reprodução do modelo de competição na escola, pelo fato de ainda mantê-la por meio dos estereótipos das competições institucionalizadas, pela ausência de um tratamento pedagógico comprometido com a educabilidade do sujeito e pela falta de compromisso da escola com as competições no ambiente escolar.

Quando a competição apenas acontece na escola, não existe um comprometimento intrínseco aos seus objetivos e função. Nesse caso, ela apenas reproduz um sistema espetacularizado. O compromisso é exterior aos objetivos e à função da escola, atendendo apenas aos anseios do sistema competitivo institucionalizado e suas transgressões, repelindo de si qualquer responsabilidade pedagógica e valorizando a escravidão pelos resultados.

O modelo de competição que defendemos está conceitualmente impregnado com a responsabilidade da educabilidade do sujeito. Por isso, a defendemos como uma competição da escola, integrada ao Projeto Político-Pedagógico curricular; um projeto maior – global e orientado para o processo, enquanto instrumento para o sujeito. (FERREIRA, 2000; TURPIN, 2002; MOTA, 2003).

Portanto, as competições ou eventos esportivos estarão integrados no programa curricular, como produto do Projeto Político-Pedagógico da escola, desenvolvido na área de conhecimento e objeto de estudo da disciplina de Educação Física, de forma interdisciplinar ou transdisciplinar, pautado nos ideários filosóficos educacionais da escola. Um projeto contextualizado e referenciado pelo tema central da escola, permitindo ser abordado por diferentes disciplinas e conteúdos.

Desse modo, o tratamento pedagógico, para uma educação comprometida com a transformação das competições escolares, tem que partir de um novo olhar sobre as formas de organização, intenções educativas e metodologia, assim como seus conteúdos e critérios de avaliação, priorizando o sujeito no processo (TURPIN, 2002; DE ROSE Jr.; KORSAKAS, 2006).


Partindo dos pressupostos pedagógicos existentes na competição, os quais poderão ser explorados, o objetivo da competição pedagógica na escola deverá ser em torno de maximizar os aspectos positivos e minimizar os efeitos negativos. Os valores de humanização, nas relações interpessoais, a busca pelo equilíbrio entre as relações de prática e resultado, o valor sócio-cultural na coexistência, são aspectos importantes a serem acentuados (SCAGLIA; MONTAGNER; SOUZA, 2001).

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