Ao defender uma proposta pedagógica para as competições escolares, nos
posicionamos e apresentamos nossa compreensão em relação a sua manifestação na
escola. Para isso, será necessário repensar o sistema de competição atual e
prática esportiva, dentro da escola. Todavia, não poderá ser feita de forma
periférica, considerando apenas um único foco.
Como verificamos e que nos faz divergir de Bassani, Torri e Fernandez Vaz
(2003), em relação às práticas esportivo-corporais na escola. Segundo os
autores, a manifestação das práticas esportivo-corporais na escola,
principalmente nas aulas de Educação Física, é o principal
alimentador dos
rituais de disciplinamento corporal. O problema é que Bassani, Torri e
Fernandez Vaz (2003) esqueceram-se de perguntar, em sua investigação, se os
rituais de disciplinamentos encontrados foram realmente culpa do esporte ou se
foram dos professores de Educação Física investigados, incapazes de iniciar uma
reflexão, alienados e acomodados com o sistema vigente, reproduzindo modelos obsoletos
de competições, que reforçam as características altamente competitivas do
mundo, do individualismo e da seletividade.
Desse modo, entendemos que mais importante que tentar compreender a
competição, é compreender o sujeito que compete, assim como os sujeitos que
especificam seus fins (GARCIA, 2002).
Para apresentarmos a proposta que defendemos para as competições
pedagógicas na escola, sobressai, inicialmente, a necessidade de elucidar um
problema conceitual com relação aos eventos esportivos escolares: os jogos
interclasses é um evento da escola ou na escola?
Aparentemente essa é uma questão ultrapassada e suficientemente gasta nas
discussões em Pedagogia do Esporte. Contudo, temos motivos suficientes para
acreditar que a escola (ensino formal) ainda não conseguiu romper com a
reprodução do modelo de competição na escola, pelo fato de ainda mantê-la por
meio dos estereótipos das competições institucionalizadas, pela ausência de um
tratamento pedagógico comprometido com a educabilidade do sujeito e pela falta
de compromisso da escola com as competições no ambiente escolar.
Quando a competição apenas acontece na escola, não existe um
comprometimento intrínseco aos seus objetivos e função. Nesse caso, ela apenas
reproduz um sistema espetacularizado. O compromisso é exterior aos objetivos e
à função da escola, atendendo apenas aos anseios do sistema competitivo
institucionalizado e suas transgressões, repelindo de si qualquer
responsabilidade pedagógica e valorizando a escravidão pelos resultados.
O modelo de competição que defendemos está conceitualmente impregnado com
a responsabilidade da educabilidade do sujeito. Por isso, a defendemos como uma
competição da escola, integrada ao Projeto Político-Pedagógico curricular; um
projeto maior – global e orientado para o processo, enquanto instrumento para o
sujeito. (FERREIRA, 2000; TURPIN, 2002; MOTA, 2003).
Portanto, as competições ou eventos esportivos estarão integrados no
programa curricular, como produto do Projeto Político-Pedagógico da escola,
desenvolvido na área de conhecimento e objeto de estudo da disciplina de
Educação Física, de forma interdisciplinar ou transdisciplinar, pautado nos
ideários filosóficos educacionais da escola. Um projeto contextualizado e
referenciado pelo tema central da escola, permitindo ser abordado por
diferentes disciplinas e conteúdos.
Desse modo, o tratamento pedagógico, para uma educação comprometida com a
transformação das competições escolares, tem que partir de um novo olhar sobre
as formas de organização, intenções educativas e metodologia, assim como seus
conteúdos e critérios de avaliação, priorizando o sujeito no processo (TURPIN,
2002; DE ROSE Jr.; KORSAKAS, 2006).
Partindo dos pressupostos pedagógicos existentes na competição, os quais
poderão ser explorados, o objetivo da competição pedagógica na escola deverá
ser em torno de maximizar os aspectos positivos e minimizar os efeitos
negativos. Os valores de humanização, nas relações interpessoais, a busca pelo
equilíbrio entre as relações de prática e resultado, o valor sócio-cultural na
coexistência, são aspectos importantes a serem acentuados (SCAGLIA; MONTAGNER;
SOUZA, 2001).
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