"Dizem que ela existe pra ajudar
Dizem que ela existe pra proteger
Eu sei que ela pode te parar
Eu sei que ela pode te foder
Dizem que ela existe pra proteger
Eu sei que ela pode te parar
Eu sei que ela pode te foder
Polícia para quem precisa
Polícia para quem precisa de polícia
Polícia para quem precisa
Polícia para quem precisa de polícia
Polícia para quem precisa de polícia
Polícia para quem precisa
Polícia para quem precisa de polícia
Dizem pra você obedecer
Dizem pra você cooperar
Dizem pra você tomar no ...
Dizem pra você cooperar
Dizem pra você tomar no ...
Dizem pra você filha da ..."
(POLICIA.Sepultura. In.:http://letras.terra.com.br/sepultura/94308, em 06.10.2011)
A Democracia Esfaqueada
Texto: Rafael Tomyama* Fotos: Alex Costa (DN) - http://www.bocadigital.net/
Farsa montada durante protesto de professores em greve ameaça estabilidade institucional no Ceará
Durante
manifestação de professores em luta no Ceará pela implantação do Piso
Nacional da categoria em 29/9, um episódio chocou o país: o brutal
espancamento de professores dentro do prédio da Assembleia Legislativa,
enquanto os parlamentares no plenário votavam uma mensagem do Executivo
que não atendia às suas reivindicações. Para tentar justificar o
injustificável, o destacamento da Polícia Militar na Casa tentou montar
uma fraude com ajuda da imprensa, agora desmascarada. O caso é tão
grave que detona, de uma só vez, a credibilidade do governo, do
parlamento e da velha mídia no Estado.
Farsa
Chocante.
Estarrecedor. Inaceitável. Esta é a verdadeira magnitude de um
escândalo que atinge a reputação e credibilidade das instituições
parlamentar, policial e jornalística no Ceará. O episódio da “faca”,
encontrada e exibida como um troféu à imprensa pelo Comandante da
segurança da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará durante
manifestação dos professores em greve, no fatídico 29/9 naquele local,
foi tida como a prova inconteste, na versão da Polícia Militar, de que o
movimento dos grevistas é “violento” e que, portanto, o espancamento
do qual foram vítimas foi um gesto de “defesa” da ordem e da
integridade de seus membros e da patrimônio daquela Casa Legislativa.
Tese
Mais
do que culpabilizar e criminalizar um movimento organizado
reivindicatório legítimo, serviu também para sustentar a tese de um
“confronto”, em que ambos os lados teriam protagonizado um
“enfrentamento” em pé de igualdade, e descartar a do massacre de que
foram vítimas. Os professores teriam cometido o sacrilégio de se
utilizar da violência, cujo monopólio cabe exclusivamente à força
repressiva do Estado.
A imprensa
subserviente também fez a sua parte. Fotos e imagens dos professores
sangrando foram estampadas ao lado do orgulhoso policial exibindo “a
faca”. A versão policial foi transcrita sem a menor preocupação de ouvir
professores sobre isso. Diante do conflito em questão era uma
informação no mínimo suspeita. E a imprensa repetiu a versão da polícia
sem ao menos se dar ao trabalho de checar. Na imagem publicada nos
jornais via-se claramente não um cossoco ou uma faca de cozinha ou um
cutelo ou uma peixeira, mas uma faca de uso exclusivo militar. Mesmo que
ferisse a inteligência da audiência e do público leitor observar que a
“prova” era parte de uma farsa, por razões óbvias.
E tem mais: A
tal faca chegou na ALEC como? Flutuando? Materializou-se em meio à
multidão? Não havia um indivíduo que a portava? Não há uma única de
imagem de circuito interno de TV? Uma testemunha idônea? Uma impressão
digital? Um resquício de prova qualquer, em que se revela o suposto
sanguinário professor esfaqueador? Perguntas que martelavam a cabeça sem
poder calar.
Ao observar-se o
contexto da tentativa de criminalização de movimentos sociais, é um
absurdo que se lance mão de um expediente típico da ditadura fascista,
para supostamente “justificar” a repressão, o uso desmedido da força e o
massacre aos trabalhadores, taxados de “baderneiros”. Comprovada a
farsa, não há voz séria e honrada que não se indigne diante de tamanha
monstruosidade.
Desmentido
Mas
o patético espetáculo prossegue. Ao estardalhaço no “quente” da
notícia segue uma protocolar nota-desementido no rodapé de uma coluna
opinativa. Afinal, não se pode acusar o veículo de não ter atuado com
isenção. Que é isso? Sobre o erro do jornal e da imprensa em geral, que
repetiu como boneco de ventríloquo a mentira, nem uma linha. Porque se
admitiria o próprio erro?
Mas os
supostos principais politicamente beneficiados pela astúcia da manobra
são: o governador do Ceará e o presidente e demais deputados da
maioria submissa na Assembleia. Pensavam que poderiam simplesmente
esmagar e passar por cima dos trabalhadores em luta, votando a mensagem
do Executivo e descendo-lhes cassetetes para que se calassem. Provaram
do gosto amargo de uma vitória de Pirro e estão aí de volta para
“negociar”. Negociar o quê? Não haviam ganho a parada?
Uma
coisa é preciso admitir: o espancamento serviu para coesionar e
fortalecer o movimento paredista, que ganha mais e mais adesões e
manifestações de apoio de todos os segmentos sociais a cada dia. A cada
passeata ou ato político multidões crescentes de lutadores de todas as
idades e segmentos sociais se somam aos protestos, numa onda
irrefreável de apoio e solidariedade.
A
instituição ALEC, na contramão, em mais uma demonstração de sua
truculência, publicou nota paga em página inteira no final de semana,
nos jornais que circulam no Estado, com o dinheiro dos contribuintes,
para fazer de conta que nada demais havia acontecido e posar de vítima e
de altiva, por conta das “medidas” ainda a serem tomadas. Oremos para
que não sejam novas medidas anti-povo.
Colchões
Vejamos
o que diz o apurado por Érico Firmo na Coluna de Política do jornal O
Povo em 4/11 (“Faca pertencia à policial”): O coronel Pimentel,
comandante militar da ALEC admitiu que a arma era de um membro da
própria corporação militar.
Segundo
os grevistas, os policiais estavam cortando os colchões em que estavam
deitados os professores em greve de fome. É normal isso? Policiais
investindo furiosamente contra colchões? Por quê? Qual seria o crime que
estariam cometendo pessoas deitadas em colchões? Seriam eles os
protagonistas do “ataque” que alegam terem sido vítimas os policiais?
Pessoas deitadas em colchões?
Mas
isso, a mídia subalterna não questiona. A risível versão policial de
que foram empurrados por colchões (que, portanto, poderiam ser cortados)
é a versão oficial e definitiva.
Laranjas
Ah,
mas tem mais, segundo ele apareceu “outra faca”. Pena que não apareceu
nas fotos. Segundo as informações fornecidas pelo próprio Pimentel,
provavelmente se desprendeu e caiu quando os professores arremessaram o
que tinham nas mãos (quando foram atacados). Arremessaram o quê?
Laranjas. Ah, os policiais foram vítimas de um “ataque”. De quê?
Laranjas. Com casca ou sem?
É um
escândalo. Um atentado à democracia e ao Estado de Direito. Em qualquer
país sério do mundo isso resultaria numa apuração isenta e rigorosa.
Pra começar. E no mínimo num esclarecimento à sociedade, com aplicação
de medidas disciplinares. Mas o que estão dizendo as autoridades? Nada.
Silenciaram. Omitem-se? Prevaricam, portanto?
Enfim,
tratado neste “nível” de displicência, o deboche vem à tona. Riem da
cara do povo. Os “espertos” contam com a certeza da impunidade por seus
atos, por se acharem do lado do poder. Mas a história ainda há de
contar como, no final de setembro de 2011, as principais instituições
da sociedade cearense fracassaram. *Rafael Tomyama é estudante de
jornalismo em Fortaleza-CE.
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